Que bicho que deu? #5 - Arraia ou Raia?

Que bicho que deu? #5 – Arraia ou Raia?

ARRAIA OU RAIA? EIS A QUESTÃO!

Ambos os nomes referem-se ao mesmo organismo, contudo o mais aceito e mencionado em livros das comunidades escolares e acadêmicas é Raia. Esses animais, que popularmente são também chamados de arraias, são peixes marinhos e de água doce com esqueleto cartilaginoso da classe Elasmobranchii, a qual agrupa também os tubarões.

Classificação sistemática de Elasmobranchii segundo o WoRMS (World Register of Marine Species, disponível em:<http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=10193>. Acesso em: 05 junho 2013.):

  • Reino: Animalia
  • Filo: Chordata
  • Subfilo: Vertebrata
  • Superclasse: Gnathostomata
  • Superclasse: Pisces
  • Classe: Elasmobranchii

Muitas raias possuem um modo de vida bentônico, ou seja, repousam sobre o fundo marinho e cobrem-se com uma fina camada de areia. Permanecem durante horas parcialmente enterradas e praticamente invisíveis, exceto por seus olhos proeminentes, os quais verificam os arredores. É importante frisar que os peixes cartilaginosos são vertebrados como os peixes ósseos!
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A raia treme-treme (Narcine brasiliensis) tem esse nome em alusão a sua capacidade de emitir descargas elétricas de até 37 volts, causando choque potente, mesmo no Homem. A produção de campos elétricos nestes animais pode ser utilizada para capturar presas e comunicação entre indivíduos. Foto feita na região costeira de Angra dos Reis, próximo da Central Nuclear de Angra – RJ.
Algumas espécies de raias têm tecidos especializados em suas caudas longas, os quais são capazes de emitir carga elétrica. Cada espécie parece apresentar um padrão único de descarga, incluindo as raias-elétricas (família Narcinidae) e raias-torpedo (família Torpedinidae), estas últimas produzem descargas elétricas de até 200 volts, as quais são utilizadas para a captura das presas. Formas derivadas, tais como as raias da família Dasyatidae, apresentam alguns poucos espinhos mais alongados e venenosos na base da cauda em forma de chicote. A disposição dos espinhos de muitas raias de água-doce geralmente é voltada para o eixo frontal do corpo de modo a travar na presa após o golpe, dificultando muito a retirada dos espinhos após efetuada a lesão. O veneno de uma arraia não é necessariamente fatal, mas pode causar fortes dores. Contudo, a perfuração por um espinho de raia de grande porte pode causar a morte de humanos. O calor neutraliza o veneno da arraia e limita a quantidade de danos que ele pode causar, logo, água quente na ferida ajuda a conter e inibir e a ação do veneno; contudo, procure sempre cuidado médico em caso de acidente.
As maiores raias, assim como os maiores tubarões, também se alimentam de plâncton (organismos microscópicos que vivem na coluna d`água ao sabor das correntes). Raias Manta ou Jamanta, da família Mobulidae, chegam a 6 metros de envergadura. Estas raias, principalmente as dos gêneros Manta (mantas-verdadeiras) e Mobula, nadam em mar aberto com batimentos para baixo e para cima das nadadeiras peitorais, impulsionando seus pesados corpos na coluna d`água. Quando se alimentam, podem nadar em círculos verticais, lembrando o movimento de looping em montanha russa, que cria um fluxo de plâncton para suas largas bocas posicionadas na região frontal da cabeça.
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Uma raia manta, com sua boca adaptada para filtrar a água do mar, em busca dos organismos planctônicos, e nadadeiras para longos deslocamentos na coluna d`água.
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A raia-chita vive junto ao fundo, mas com grande mobilidade na coluna d`água. Durante seus deslocamentos, caça invertebrados e peixes no substrato.
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A raia-prego (família Dasyatidae) tem comportamento associado ao fundo, principalmente os de areia, onde se enterra como camuflagem, utilizada tanto para a defesa como para o ataque, manobras que contam com auxílio do esporão na base da cauda.
Você sabe quais são os lugares no Brasil onde a presença de raias manta é frequente? Na Laje de Santos, litoral de São Paulo e no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, uma de nossas fronteiras oceânicas mais isoladas, distante 1010 km da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte.
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O Tubarão-baleia é outro exemplo de peixe cartilaginoso (classe Elasmobranchii), que tem nesta espécie o maior de todos os peixes do mundo. Reparem no posicionamento anterior da boca, especializada em capturar plâncton.
Um aspecto muito interessante das raias mantas é que a parte de baixo de seus corpos é manchada com pintas negras e cinzentas. Essas manchas apresentam padrões que não se repetem de indivíduo para indivíduo e são como impressões digitais de cada animal.
A distinção das variadas espécies é feita pela observação da anatomia do seu corpo, suas caudas e pelos seus modos de reprodução. As raias têm o corpo achatado dorso ventralmente e suas nadadeiras peitorais são fusionadas na cabeça, dando a impressão de serem asas. Além disso, as raias têm uma nadadeira chamada caudal delgada, que é longa. Algumas raias têm uma cauda alongada, porém larga, a qual sustenta duas nadadeiras dorsais e uma nadadeira caudal terminal. Um determinado grupo de raias apresenta uma cauda em forma de chicote, onde as nadadeiras foram substituídas por um espinho dorsal grande, serrilhado e venenoso.
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Raia-borboleta (Gymnura altavela) pescada e comercializada pela Colônia de Pescadores de Copacabana, Rio de Janeiro – RJ. Há uma grande riqueza de espécies de raias na desembocadura da Baía de Guanabara, que é uma área de berçário para muitas espécies marinhas.
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O cação-viola (Rhinobatus sp.), que é uma raia, é comumente captura na desembocadura da Baía de Guanabara, Rio de Janeiro – RJ.
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Cação-martelo pescado na desembocadura da Baía de Guanabara, Rio de Janeiro – RJ. Você sabe ver as diferenças fundamentais no corpo deste animal para o de uma raia?
Se não sabe, vamos a elas!

  • Primeiramente, as fendas branquiais dos tubarões estão localizadas na parte lateral do corpo, enquanto nas raias estas estão presentes na face ventral.
  • Nos tubarões verdadeiros (Galeomorphi), há a presença de nadadeira anal (nadadeira única, localizada entre a nadadeira caudal e a nadadeira pélvica). Nas raias e nos tubarões não verdadeiros (evolutivamente mais ligados às raias do que aos Galeomorphi) houve a perda desta nadadeira e modificações progressivas na nadadeira caudal de forma a formar estruturas afiladas e longas em alguns grupos de raias.
  • Por fim, nos tubarões verdadeiros, o par de nadadeiras peitoral é visivelmente separado da cabeça do animal. Isto não ocorre nas apenas em raras exceções.

VÍDEOS NA REDE:

http://www.youtube.com/watch?v=ku5q20PSwtI

Referências Bibliográficas
POUGH, F. H.; JANIS, C. M.; HEISER, J. B. Vertebrate life. 4ª ed. SP.  2008.
NETTO, C. G. Jornal da UNICAMP, Campinas.  28 Jun. 2009
http://www.elasmo-research.org/staff.htm
http://www.marinespecies.org
ROSA, R.S. & FURTADO, M. 2007. Narcine brasiliensis. Disponível em: http://www.iucnredlist.org. Acesso em 05 junho 2013.
SÉRET. B, 2006.  Guia de identificação das principais espécies de raias e tubarões do Atlântico oriental tropical para observadores de pesca e biólogos. Disponível em: https://www.iucnssg.org/news/new-guides-to-bolster-shark-and-ray-research-and-species-identification-in-southeast-asia. Acesso em 05 junho 2013.
Autores:

Kleber Villaça Pedroso1, 2 & Rafael Nascimento de Carvalho1, 3

1- Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
2- Aluno de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRJ e Bolsista PIBIAC
3- Aluno de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRJ e Bolsista PIBEX
Revisão:
Prof. Dr. Fernando Coreixas de Moraes (Biólogo Marinho – Doutor em Zoologia. Pesquisador Colaborador Sênior do Museu Nacional – UFRJ.)