Palestra mostrou que brasileiros têm visão otimista sobre Ciência, mas não ingênua

Palestra mostrou que brasileiros têm visão otimista sobre Ciência, mas não ingênua

Dr. Douglas Falcão apresentou no Museu Nacional dados da mais recente Pesquisa de Percepção Pública de Ciência e Tecnologia no Brasil, tocando em pontos chave para a Divulgação Científica.

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Douglas Falcão falou sobre a percepção de Ciência e Tecnologia do brasileiro.

O brasileiro se interessa e tem uma visão otimista sobre Ciência e Tecnologia. Longe da ingenuidade, manifesta o desejo de conhecer os riscos e preza pela ética nas pesquisas. O futuro da divulgação científica é a internet.

Estes foram apontamentos do Dr. Douglas Falcão, pesquisador no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e ex Diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (SECIS/MCTI). Em uma palestra no último dia 25 no Museu Nacional, apresentou dados da Pesquisa de Percepção Pública de Ciência e Tecnologia no Brasil. A pesquisa realizada em 2015 foi encomendada pelo Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e contou com 1.962 participantes maiores de 16 anos em todo o Brasil. Foram mais de 100 perguntas feitas por telefone sobre interesse e grau de acesso à informação sobre C&T; avaliação da cobertura da mídia na área, opinião a respeito de cientistas e papel da C&T na sociedade, percepção dos riscos e benefícios da ciência, além de atitudes diante de aspectos éticos e políticos relacionados com o tema. Os resultados foram publicados este ano e estão disponíveis aqui para consulta. É possível comparar os resultados obtidos em 2015 com pesquisas semelhantes aplicadas em 2010, 2006 e 1987, observando a evolução da percepção dos brasileiros sobre C&T nas últimas décadas. A plateia participou ativamente do encontro.

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Cartaz de divulgação da palestra, que ocorreu no dia 25 de Setembro no Museu Nacional.

Brasileiros se interessam mais por C&T que os europeus

Enquanto 61% dos entrevistados brasileiros disseram ser interessados ou muito interessados em Ciência e Tecnologia, em uma pesquisa semelhante realizada em países da União Europeia em 2013, este número chegou a apenas 53%.  Medicina e Saúde (78%), Meio Ambiente(78%) e Ciência & Tecnologia (61%) figuraram entre os temas de maior interesse dos brasileiros, o de menor interesse foi política com 27%. De acordo com Falcão, estes dados se devem à visão otimista que os brasileiros têm da Ciência e Tecnologia.  Verifica-se um salto no interesse por C&T nas últimas três décadas, mas se espera uma relação menos amistosa com o tema nas pesquisas futuras, assim como observado em países europeus. Falcão atribui esta expectativa à naturalização do desenvolvimento tecnológico e à consciência dos riscos. “Estamos em um período de inclusão, um “namoro” com as C&T”, disse o palestrante.

Um dado que já era esperado é o aumento do interesse na área conforme elevação do nível de escolaridade. Destacaram-se também os jovens como os mais interessados em C&T. Apesar do elevado interesse, o nível de informação é um pouco inferior: 59% da amostra declarou que se sente informada sobre C&T.

Gráfico1: Percentual dos entrevistados segundo o interesse declarado em C&T e em outros temas.imagem1

Fonte: Pesquisa sobre percepção da C&T no Brasil (CGEE,2015).

 Otimismo apesar dos riscos

Os benefícios do avanço da C&T foram destacados por 73% dos entrevistados. Os cientistas são profissionais que inspiram confiança: 50% dos entrevistados disseram que são pessoas inteligentes que fazem coisas boas para a humanidade. Quando perguntados sobre a motivação das pesquisas cientificas, 34% dos entrevistados mencionaram ajudar a humanidade, 17% contribuir com o avanço do conhecimento e 15% contribuir com o avanço tecnológico e científico do país. Mais da metade dos entrevistados acreditam que os governantes devem seguir o que dizem os cientistas (59%) e que desenvolvimento tecnológico está associado com a redução das desigualdades sociais (52%).

Os brasileiros mostram que otimismo é diferente de inocência, já que parecem estar cientes dos riscos. Apesar da visão otimista, 67% aponta que o conhecimento dos cientistas os torna perigosos e 57% dos entrevistados concordaram que a ciência e a tecnologia são responsáveis pelos maiores impactos ambientais atuais. Teme-se também a perda dos empregos por causa da automação dos serviços (58%). Diante destes riscos, a população demonstra querer maior participação e controle social da produção científica. Mais de 80% da população alerta para a necessidade da exposição pública dos riscos do desenvolvimento científico e tecnológico. A população quer ser ouvida sobre as grandes decisões (84%) e diz que é capaz de compreender os conhecimentos científicos se forem bem explicados (76%). As autoridades devem obrigar os cientistas seguir padrões éticos, concordaram total ou parcialmente 72% dos entrevistados.

GRÁFICO 2 Percentual dos entrevistados quanto a afirmações relacionadas à ciência e tecnologia, aos seus aspectos éticos e à participação da população, 2015.

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Fonte: Pesquisa sobre percepção da C&T no Brasil (CGEE,2015).

No gráfico, 81% concorda total ou parcialmente que riscos devem ser expostos publicamente e 84% que a população deve ser ouvida, e 76% que os conteúdos científicos podem ser compreendidos pela população.

Museus e divulgação da ciência

Os dados obtidos na pesquisa sobre os museus não ficaram de fora da apresentação de Falcão. Ele mostrou que houve um aumento significativo no número de brasileiros que visitam museus e centros de C&T: em 2006 o percentual era de 4%, já em 2015 o percentual subiu para 12,3%.  Em outros países, a visita aos museus é mais frequente: 36% (Suécia, 2005); 27% (China, 2010); 25% (EUA, 2012); 20% (Alemanha e Reino Unido, 2005); 16% (média da Europa, 2005). Os dados obtidos no Brasil se aproximam mais dos dados obtidos na Índia (12%, 2004), no Japão (12%, 2001) e na Coreia do Sul (9%, 2010). A população tem interesse, mas a divulgação científica ainda tem muito para caminhar.

Internet: a divulgação científica no futuro

Os veículos de comunicação mais utilizados para se informar sobre C&T são televisão, internet e redes sociais, além das conversas com amigos. Os menos utilizados são livros, rádio e jornal impresso. A internet vem demonstrando seu potencial pelo crescimento nas ultimas pesquisas: Em 2006, apenas 23% dos entrevistados declararam acessar a internet para se informar sobre C&T. Este percentual subiu para 34% em 2010 e 47% em 2015. Os responsáveis por este salto são os jovens entre 18 e 24 anos, que mais acessam conteúdos de C&T na rede. No futuro, a internet deve ultrapassar a TV. Este dado chama a atenção de divulgadores da ciência, por indicar um caminho para o futuro. Na web, onde qualquer um pode produzir seu próprio conteúdo, é importante se preocupar com a qualidade da informação e com a capacidade de selecionar fontes confiáveis. Surge um importante espaço de diálogo, possibilitando cada vez mais a aproximação entre os cientistas e o público.

GRÁFICO 3 Percentual dos entrevistados que declararam acessar com muita frequência diferentes meios de divulgação para adquirir informação sobre C&T, segundo as enquetes de 2006, 2010 e 2015.

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Fonte: Pesquisa sobre percepção da C&T no Brasil (CGEE,2015).

Observa-se o aumento do número de pessoas que se informa sobre C&T pela internet, ao passo que outros veículos como rádio e jornal impresso entrem em declínio.

Referência: A ciência e a tecnologia no olhar dos brasileiros. Percepção pública da C&T no Brasil: 2015. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2017.

Texto de: Aline Miranda (SAE/MN)