Museu de Curiosidades #7 - Shabits

Museu de Curiosidades #7 – Shabits

Você já ouviu falar em Shabits? Sabe o que eles significam? São pequenas estatuetas, utilizadas no Egito Antigo, colocadas nas tumbas, representando servos cuja função era substituir o morto em seus trabalhos no pós-vida. Também chamados por três nomes alternativos shabti, chauabti e ushabti, serviam para suprir as necessidades do morto, e a ideia de melhorar a sua existência na vida após a morte, levou à criação dos shabits no contexto do ritual funerário. Na exposição do Museu Nacional encontram-se shabtis de tamanhos, formas e materiais variados.

SHABTI DE HAREMAKHBIT Faiança; Tebas ocidental, Egito Antigo; XXI Dinastia; 12,5 cm Museu Nacional

SHABTI DE HAREMAKHBIT
Faiança; Tebas ocidental, Egito Antigo; XXI Dinastia; 12,5 cm
Museu Nacional

Com os shabtis evitava-se que o morto fosse obrigado a cultivar ou limpar campos no outro Mundo. De início, colocava-se apenas um servidor funerário, em substituição ao morto. Aos poucos, seu número aumentou e, no Novo Império (a partir de 1380 A.C) já se colocavam até centenas que eram guardados em caixas, cestos e vasos. Estas estatuetas eram de pedra, madeira, bronze ou faiança (Material cerâmico não-argiloso, de superfície vítrea que lhe confere uma cores entre o azul e o verde). Levavam ferramentas nas mãos e um cesto nas costas.

SHABTIS Museu Nacional

SHABTIS
Museu Nacional

 O significado das estatuetas era complexo, e mudou com o passar do tempo. Desde a substituição da função dos antigos modelos, estas estatuetas possuem um caráter de servos do morto ou, mais ainda, agem como um substituto pessoal para o seu senhor.

O destino reservado aos mortos pressupõe que o morto trabalhe nos campos de Hotep, em clara subordinação do indivíduo à divindade. Ao mesmo tempo em que o encantamento espelha a continuidade da vida no mundo dos mortos, no qual se poderia trabalhar, beber, ter relações sexuais etc, estava-se a serviço do deus. O falecido poderia, contudo, livrar-se desta sorte utilizando-se dos shabits, que fariam o serviço para ele no outro mundo, conforme observamos no capítulo 6 do Livro dos Mortos.:

Secção do livro dos Mortos

Secção do livro dos Mortos

 “Encantamento para fazer que os shabits realizem trabalho por seus donos no mundo dos mortos.

[…] Ó vós, shabits, que foram feitos para N, se N for recrutado para esta tarefa, ou se uma obrigação desagradável for imposta a N, ‘Aqui estamos’, vós deveis dizer. Se N for recrutado para vigiar aqueles que trabalham revolvendo novos campos, para plantar as terras ribeirinhas ou transportar areia para o ocidente que foi posto no oriente – e vice versa – ‘Aqui estamos’ vós deveis dizer sobre isto.

Para não apodrecer e não trabalhar no mundo dos mortos. Eu como e eu engulo e eu sento como Hórus; a corda […] é tecida para mim.”

Atualmente, o número de shabits encontrados em tumbas escavadas ajuda os arqueólogos determinar o status do dono do túmulo. O mais pobre dos túmulos não contêm shabtis, mas mesmo aqueles de tamanho modesto contêm um ou dois e houve túmulos contendo um Shabti para cada dia do ano. Outra curiosidade é que algumas tumbas contam com estátuas de capatazes, no geral segurando um chicote. Os capatazes seriam encarregados de manter dez shabtis no trabalho e, nas tumbas mais elaboradas, havia trinta e seis figuras de capatazes para os shabits 365 trabalhadores.

 Essas peças foram produzidas por cerca de 2000 anos, e provavelmente evoluíram a partir de figuras em miniatura colocadas em caixões e continuaram em uso até o final do período ptolomaico (332 -30 AC). Por causa do grande número produzido durante esses anos, os shabits estão entre os mais numerosos artefatos da antiguidade egípcia. Atualmente a Coleção egípcia do Museu Nacional do Rio de Janeiro conta com 244 shabits.

Escrito por:
Henrique Dias Sobral Silva  – Graduando em História (UFRJ), Bolsista PIBEX; Seção de Assistência ao Ensino – SAE/Museu Nacional (UFRJ).

Bibliografia:

COOK, M. A. Uma breve história do homem. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. -Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

FAULKNER, Raymond. The Ancient Egyptian Pyramid Texts. Warminster: Arris & Phillips, 1969.

http://www.ancient.eu.com/article/119/

http://www.fascinioegito.sh06.com/shabtis.htm