Museu de Curiosidades #2 – Chapada do Araripe
A Chapada do Araripe
Desde o século XIX, a Chapada do Araripe, na divisa dos estados de Ceará, Piauí e Pernambuco, é reconhecida como um acidente geográfico de grande importância científica por estar localizada em uma bacia sedimentar rica em depósitos de fósseis bem preservados, datados do Cretáceo Inferior. O topônimo “Araripe” vem do tupi-guarani ara (dia, tempo, mundo e até claridade), ari (o começo ou o nascimento) e pe (em, lugar, onde) e significa “lugar onde começa o dia”. Além disso, algumas das formações da Chapada ao longo das eras estão na exposição permanente do Museu Nacional.
As primeiras pesquisas realizadas na região datam de 1840, quando o botânico escocês George Gardner coletou fósseis de peixes, posteriormente entregues para análise de especialistas. Em 1844, com base nessas pesquisas, a Chapada do Araripe foi identificada como uma formação geológica do período Cretáceo, sendo a primeira área do território brasileiro a ter sua datação determinada com base em registros paleontológicos. Vejamos um mapa dessa região.
Com rochas de cerca de 110 milhões de anos que conservam animais nos quais, é possível pesquisar células musculares e aparelhos digestivos com as últimas refeições. Cientistas constataram que foi o primeiro lugar no mundo onde surgiram flores, datadas do período Cretáceo – quando as placas continentais do Brasil e da África ainda se separavam. Incrustadas em rochas, as plantas fósseis são exemplares que deram origem aos vegetais com flores atuais.
A região, abriga o Parque dos Pterossauros, a quatro quilômetros de Santana do Cariri, no estado do Ceará. Ali são expostas réplicas artísticas desses répteis voadores que possuíam até cinco metros de envergadura. De todos os exemplares fósseis dessa ave já achados no mundo, um terço está na Chapada do Araripe.
A quantidade e qualidade dos vestígios arqueológicos na Chapada do Araripe surpreendem. Pode-se achar material pré-histórico no quintal de casa. As rochas contendo fósseis são utilizadas até mesmo para a confecção de pisos e revestimentos para paredes e muros. Não raro, vêem-se rochas com peixinhos decorando paredes de casas e construções na região.
Segundo o setor de Paleovertebrados do Museu Nacional, os principais grupos fósseis encontrados na Chapada são: vegetais, invertebrados, peixes anfíbios, quelônios, Pterossauros e dinossauros entre outros. Sendo possível apreciar alguns exemplares provenientes da Chapada do Araripe na exposição do Museu Nacional.
O exemplar a seguir é datado do Cretáceo Inferior – 110milhões de anos. Os representantes dessa espécie constituem os registros mais antigos de tartarugas descritas no Brasil.
A imagem a seguir corresponde a um escorpião fossilizado em calcário laminado, procedente também do Araripe. Este exemplar é destacado pela sua raridade e excelente estado de preservação. Além dos escorpiões, ali ocorrem restos fossilizados de aranhas e insetos que viveram durante o período Cretáceo, há cerca de 110 milhões de anos.
Especialistas já demonstraram que é notável a diferença ambiental e, consequentemente, os registros de diferentes formas de vida nessa região. Os exemplos expostos no museu são a Formação Romualdo e a formação Crato, respectivamente, as figuras 3 e 4. Sendo a Romualdo, de 10 milhões de anos, com maior registro de vida marinha, com peixes maiores. Lá viveram plantas, insetos e Pterossauros (um nível de réptil alado) como o da representação a seguir.
Quanto à formação Crato, que possui 15 milhões de anos, podemos observar a incidência de água doce, ao redor do qual se desenvolveu um ecossistema continental, com diversas espécies de plantas insetos, inúmeros peixes, tartarugas e Pterossauros.
Algumas espécies suportaram a mudança climática, enquanto outras sucumbiram, abrindo espaço para novas espécies. Temos uma variação de clima, dos animais e da vegetação. Um exemplar de dinossauro dessa região que consta em nossa exposição é o Angaturama limai que viveu a 110 milhões de anos na Chapada do Araripe. Era um dinossauro grande, podendo chegar a uns oito metros de comprimento e a pesar cerca de 1 tonelada. Provavelmente se alimentava de peixes, como o Barionix. Como característica da família, possuía uma cabeça longa com um focinho alongado e estreito. Um outro detalhe interessante do angaturama era ter as narinas em frente aos olhos, assim como as aves atuais. Também possuía uma crista na frente do crânio.
Portanto, se hoje o clima do sertão nordestino é predominantemente árido, no passado uma boa parte dele era tomada pelas águas do atlântico isso fazia com que o clima fosse completamente diferente.
Henrique Dias Sobral Silva – Graduando em História (UFRJ), Bolsista PIBEX-Museu Nacional (UFRJ).
Bibliografia:
MOURA, G.J.B.; BARRETO, A.M.F. & Báez, A.M. A biota da Formação Crato, Eocretáceo da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Olinda: livro Rápido, Editora Elógica, 2006.
NEUMANN, V.H.M.L. Estratigrafia, Sedimentologia, Geoquimica y Diagénisis de los Sistemas lacustres Aptienses-Albienses de la Cuenca de Araripe (Nordeste do Brasil). Tese de doutoramento, Facultat de Geologia, Universitat de Geologia de Barcelona. Barcelona. 1999.
https://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/paleontologia/pale023.html
https://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/paleontologia/pale032.html
https://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/paleontologia/dinossauros_no_sertao.html