Museu de Curiosidades #11 Boneca Karajá: Patrimônio Imaterial do Brasil
O povo Karajá, uma das mais conhecidas etnias indígenas do Brasil, ocupava originariamente as regiões localizadas na extensão do rio Araguaia nos estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Goiás. Atualmente o aldeamento mais importante está localizado na ilha do Bananal no Tocantins. A estimativa total da população Karajá gira entorno de 3.200 pessoas.
Apesar de ter sofrido com o avanço da colonização ocidental, este grupo é um dos que melhor conseguiu preservar seus costumes ao longo dos anos. Além de serem relativamente conhecidos no resto do país, símbolos importantes como a língua, a pesca e alguns rituais se mantêm nas praticas cotidianas. O principal exemplo desta preservação da cultura Karajá é justamente a boneca de cerâmica feita por eles.
Para além de sua função enquanto ornamento, as bonecas Karajá são uma boa amostra da cultura deste povo, possuindo importantes significados sobre a sua organização social. Além disso, nos dias de hoje, a produção e a comercialização das bonecas têm servido de relevante fonte de renda para boa parte das famílias. Por isso, a boneca Karajá foi recentemente reconhecida como patrimônio imaterial do Brasil.
O reconhecimento da boneca enquanto patrimônio imaterial contribui justamente na preservação do “saber fazer”. A técnica de produção da boneca é utilizada apenas pelos Karajás e é passada de geração a geração. O processo, que tem duração de uma média de uma semana, é controlado e dominado pelas mulheres e acompanhado pelas filhas que vão aprendendo com as mães. A técnica consiste basicamente na coleta da argila, preparo da massa, modelagem, secagem e pintura.
As faixas etárias dos Karajás são definidas e representadas por símbolos estéticos representados pelas pinturas corporais e formatos de cabelo. Este código também se apresenta nas bonecas. Dessa forma, são produzidos conjuntos de bonecas que ilustram as distintas composições familiares presentes na etnia Karajá. Também é possível encontrar referencias à fauna da região e à mitologia dos Karajás.
A preservação deste patrimônio, passado de geração em geração, passa por constantes ressignificações que dialogam com as alterações no ambiente e nas interações sociais. Um exemplo deste processo é o fato de que hoje é possível distinguir dois tipos distintos de boneca, a Hўkўnaritxoko (boneca antiga) e a Ritxoko (boneca moderna). Enquanto a Hўkўnaritxoko representa a boneca tradicional feita para os próprios Karajás, a Ritxoko esta voltada para a comercialização e, dessa forma, atente a objetivos mais decorativos.
Além disso, esta preservação do patrimônio contribuiu para que se avance na difusão do conhecimento sobre os povos indígenas do Brasil e na construção de uma memória que não relegue a estes povos um espaço marginal. Na exposição de Etnologia Indígena do Museu Nacional é possível conhecer um pouco mais sobre estas culturas.
Texto escrito por: Afonso Henrique de M. Fernandes, Graduando do Instituto de História da UFRJ e Bolsista PIBEX da SAE/Museu Nacional UFRJ.
Revisão: Crenivaldo Regis Veloso Junior, Historiador da Seção de Etnologia do Museu Nacional.